Essa reflexão é mais sobre você do que propriamente sobre as IAs, mas vamos aos fatos.

Venho acompanhando a evolução da área de TI há mais de 23 anos, e lembro de ouvir falar em IAs pelo menos desde essa época. Estudos teóricos existem há décadas — tanto que Alan Turing já propôs seu famoso teste no ano de 1950. E o que faltava então? Faltava capacidade de processamento. A evolução dos computadores era limitada... até que veio de onde menos se esperava: o mercado de games. Foi ele que puxou a evolução dos hardwares, principalmente das GPUs. Hoje, basicamente todos os modelos de IA no mercado dependem umbilicalmente de Tensor Cores, CUDA Cores e GPUs de alta performance pra existir.

Só que essa evolução bateu num platô em 2022. Desde então, estamos apenas reciclando o que já existe, melhorando algoritmos enquanto esperamos o próximo salto no hardware. E isso pode acontecer amanhã, ou só daqui a 10 anos — ninguém sabe. E esquece essa história de computação quântica, porque o que a gente precisa não é mais processamento, e sim mais contexto. É mais útil ter 500 TB de RAM do que uma GPU 50x mais rápida.

E aí talvez você esteja se perguntando: “ok, mas o que isso tem a ver comigo?”. Bom… eu não te conheço. Então, não sei o quanto isso te impacta. Mas posso te contar como me impacta.

Como falei, tenho 23 anos como programador. Até 2024, meu uso de IA era bem pontual. Brincava um pouco com ChatGPT, Grok, Gemini, Stable Diffusion, TensorFlow, etc. Mas há alguns meses lançaram algo que mudou completamente minha pipeline: o Claude 3.7.

Até então, todas as IAs exigiam um trabalho de contextualização chatíssimo. A UX da interação era péssima, e sem contexto a LLM te dava resultados medianos (ou ruins). Mesmo você tendo o conhecimento certo pra pedir, era um processo frustrante. Pra tarefas menos verbosas — como redação, roteiro ou até coisas simples de programação — essas IAs até entregavam. Mas conforme a complexidade aumentava, a falta de experiência se tornava evidente. A sensação era a mesma de usar ferramentas low-code ou no-code: você até tem uma super ferramenta nas mãos, mas se não souber operar, não adianta nada. É a velha história: de que adianta ter um carro de Fórmula 1 se você não sabe dirigir?

As IAs são exatamente isso pra 99% das pessoas.

Com o Claude 3.7 Sonnet, a régua mudou. O código que ele gera, e a complexidade que consegue lidar, estão em outro nível. É ordens de grandeza acima dos concorrentes. Eu diria que hoje, é o único com potencial real de virar uma Skynet. Com uma boa base de código e um bom operador, é possível criar aplicações complexas, bem escritas e numa velocidade absurda.

Pra você ter uma ideia: quem me conhece sabe que eu já desenvolvo num ritmo fora da curva. Com o Claude, minha produtividade aumentou pelo menos 10x. Tenho usado tanto que esse mês já devo ter passado dos $300 em uso (via Cursor + Claude 3.7). E o que isso significa na prática?

Antes, pra tocar um projeto, eu precisaria de pelo menos 3 devs seniors ou plenos pra fazer code review, implementar partes específicas como frontend, etc. Além disso, um QA, um DevOps pra configurar workstations, VPNs, etc., talvez um UI/UX designer pra trabalhar os layouts junto com o front... só pra organizar a equipe e começar a produzir seriam 3 a 4 meses, fora o tempo pra achar gente razoável. Numa squad pequena dessas, a média de custo seria uns 60~80k por mês — ou seja, meio milhão só pra iniciar uma operação.

Com Claude 3.7? Virou $100 de custo, produtividade imediata, qualidade melhor e muito mais eficiente. E tenho base de comparação: minha vida toda, em todas as empresas, usei estrutura com pessoas. Hoje? Zero vontade de contratar devs. Prefiro manter os 500k no bolso e tocar tudo sozinho.

E essa realidade não é só minha. Ao redor do mundo, várias empresas estão reavaliando o quanto as pessoas são realmente necessárias nas posições que ocupam. Você pode concordar ou não — não muda nada. Isso é um fato, e já está acontecendo.

Como falei lá no começo, isso diz mais sobre você do que sobre a IA. Você está usando IA pra potencializar seus conhecimentos e entregar melhores resultados? Ou prefere ficar postando no LinkedIn reclamando que foi demitido e substituído por uma IA?

Sendo bem direto: eu não teria problema nenhum em ser substituído por IA. Porque minha função já deixou de ser “digitador de código” há muito tempo. Hoje, sou um operador, e continuo sendo relevante no direcionamento da aplicação.

Porque programar nunca foi sobre linguagem, framework ou o quanto de SOLID seu código tem. Programar é sobre resolver problemas e gerar dinheiro com isso. Se seu código não faz isso, ele não tem valor — é só um hobby pra alimentar seu ego. E disso o mercado já tá cheio.

A real é que o mercado não precisa de você. É duro? É. Mas é verdade. Nada te impede de abrir sua própria empresa e provar que está certo. Eu acredito que há espaço pra trabalhos mais artísticos, conceituais. Mas aí você precisa entender: isso se sustenta? E até quando?

No fim das contas, o papo nem é sobre IA, é sobre você mesmo. A IA é só uma ferramenta, das mais brutas que já apareceu, e como toda ferramenta, ela amplifica o que você já é. Se você sabe operar, ela te coloca num nível absurdo. Se não sabe, ela só escancara sua limitação. O que tá rolando agora é um corte natural — quem entendeu isso já tá 10x mais rápido, mais eficiente, mais produtivo. Quem ainda tá achando que vai voltar pro "normal" de antes, vai ficar pra trás sem nem perceber. Não é maldade, não é ideologia, é só a realidade batendo na porta.

E a real é que a parada não é nem mais sobre programar. Escrever código virou detalhe. O jogo agora é entender o que tem que ser feito, guiar a IA do jeito certo e transformar isso em algo que gera resultado. Quem só sabe digitar código e seguir tutorial vai sumir, porque isso a IA faz melhor. Agora, quem tem visão, quem sabe conectar as peças, montar produto, pensar em solução de verdade, esse vai continuar sendo valioso. Não é sobre ser gênio, é sobre entender que o jogo mudou. E se você não muda com ele, o jogo te tira do tabuleiro.